segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O trabalho diário

Ter força nas pernas para sustentar o corpo e imprimir uma leveza ao caminhar.

A perda de líquido é inevitável durante o processo, já que vou à exaustão.


Exercícios são utilizados para fortalecer a musculatura.


Há um momento para alongamentos básicos do corpo. Ele precisa estar em estado de atenção para o trabalho expressivo.


Existem trilhas diferentes no processo. Cada dia estou trabalhando com uma diferente. Em dado momento elas servirão, juntas, de suporte para a cena.

sábado, 11 de outubro de 2008

Retorno

A ausência de atividades físicas fez meu corpo dar sinais que eu estava por demais "enferrujado". Por isso, achei prudente ficar alguns dias sem fazer o trabalho pré-expressivo para diminuir as dores que meu corpo estava sentindo.
Hoje ele está melhor. Por isso, há dois dias eu retornei às atividades de pré-expressividade.
Ainda estou em busca de uma sequência de atividades para azeitar mais meu corpo para o trabalho expressivo. Estou encaminhando para utilizar o butoh e a mímica dramática. Percebi, ontem, que trilho sem perceber por esses territórios. Gosto disso.
Hoje vou tentar gravar alguma coisa para postar amanhã.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O corpo inerte

Desde que cheguei de São Paulo, dia 01 de setembro de 2008, eu estava sem fazer atividades físicas. Era um momento de relaxar, desfazer as malas, rever os amigos, assistir a filmes, ficar ocioso. Inevitavelmente, senti essa ausência em meu corpo neste primeiro dia - o que é natural. Por isso, não exigi muito dele.

Durante cerca de 3 horas, fiz atividades de massagem, alongamento dos músculos e movimento de articulações. Algumas flexões de braço e abdominais. Depois, pratiquei a kundalini, dancei por 15 minutos e relaxei outros 15. Ainda não tomei banho. Hoje choveu aqui; transpirei uns bocados - o que é bom. Na dança, mesmo com ações que se repetem, foi perceptível a diferença de energia antes e depois da kundalini.

Um dia sem fumar e sem comer carne. Telefone tocando, barulho lá fora, e a energia foi se esvaindo. É que minha concentração, hoje, estava pequena. Início de processo é sempre assim.

Amanhã vou tirar algumas fotos para postar aqui. Filmarei a dança. Essa sistemática será rotineira. Alguns exercícios serão acrescentados. Em dado momento vou tirar fotos de todos eles e deixá-los à disposição, explicitando alguma coisa sobre cada um deles. Com o decorrer do processo, pretendo sistematizar o trabalho pré-expressivo e segui-lo à risca.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Preâmbulo


O cronograma de treinamento, que viabilizará a montagem do espetáculo, será iniciado amanhã. Ao invés de ter começado no mês de agosto, estará sendo iniciado amanhã e agilizado até dezembro de 2008, culminaodo com a apresentação do espetáculo. Ao invés de 3 a 4 horas diárias, estarei fazendo de 6 a 8 horas, também diárias, para cumprir o cronograma de estréia ainda em dezembro.

Esta montagem tem o patrocínio do Governo do Estado do Maranhão, através de sua Secretaria da Cultura.


A arte já está pronta e ilustrará todo o material gráfico do espetáculo, como banner, ingresso e cartaz.

O texto, que dará suporte à montagem, é a partir de um conto de Lio Ribeiro, cujo título dá nome a este blog:

O vento bate a janela. Ele permanece só. Como que esperando que a chuva que escorre pelas paredes tardias. Lhe traga alguma notícia de algum lugar. Piscar de olhos. Nada acontece. Em Paris a essa hora o mesmo vento beija a torre Eiffel lânguida e docemente. Na janela algumas fadas espiam com seus longos cabelos azuis e olhos de fogo. Ele permanece ali. Distante. Parado. Só com suas lembranças. Suas agonias de homem apaixonado. A sala. A casa. Está vazia. Oca de sons. Tendo ali um velho piano tocaria por si. A casa toda era um eclipse interminável. E ele imóvel. A assistir o desfiar das horas. Como num filme. Tudo acontecia sem pressa de acabar. Pra que pressa se o futuro é a morte? De repente a invasão do pelotão de fuzilamento. Feito o seu trabalho vão tomar cerveja num bar da esquina. Depois de morto volta pra perto da janela para contemplar a chuva. A mesma chuva que momentos antes lacrimejava pelas paredes. E ainda assim nada acontecia. O badalar dos sinos. Os homens no bar da esquina. As mulheres na porta da portejanela cordeabóbora. Tudo parecia uma visão. Envolta numa nebulosa. Ele permanece só. Como antes. Como sempre. Como era de se prever que acontecesse. Mas o que mais lhe perturbava era que nada. Nada acontecia. A janela. A mesma. As fadas e seus longos cabelos azuis com olhos cor de fogo. Espiando. Espiando... Novamente os homens entram repentinamente. Fuzilam-no. Vão tomar cerveja no bar da esquina. E rir e falar de mulheres. Futebol. Do filho do sapateiro. Que nasceu torto. E da mulher do alfaiate. Que se matou quando soube que ia fazer vinte anos. Nada acontecia. Nem mesmo isso o atormentava depois de morto pela segunda vez. Tudo estava ali. Como sempre. Como nunca estivera. Ele do alto de seus cabelos em tranças. Permanecia parado em frente à janela. As fadas cansadas. Se foram. Levando consigo os enormes cabelos azuis e os olhos de fogo. Haviam desistido de espiar. Foram-se apenas. Fadas. Quando em vez a chuva. Que também assistia a tudo enquanto escorria pelas paredes. Cessava. Pra ver se algo acontecia. Mas nada. Nada ousava mudar o destino daquele homem. Que parecia ali parado cumprir alguma profecia. Nem mesmo ele saberia explicar. Se isso valesse alguma coisa. Tudo era como tinha que ser. Porque assim são as coisas. Ele. Parado. Não se perdia nessas indagações. Sem importância. Nada acontecia. Há muito que as fadas se tinham ido. E os homens do pelotão de fuzilamento deixaram de matá-lo. As cervejas acabaram. As mulheres secaram em frente à portejanela cordeabóbora. O filho do sapateiro continuou torto. A mulher do alfaiate se matava a cada dia. Por saber que iria fazer vinte anos. Ele. Só. Permanecia ali. Parado em frente à janela. Até a chuva que escorria pelas paredes lhe abandonara. E nada. Nada acontecia. Contam os ciganos que vêm em bandos. Daquelas bandas. O mato cresceu. A poeira quase cega os olhos. Ele continua lá. Só. Parado em frente à janela. A espera que alguma coisa aconteça. Nada acontece. Nunca aconteceu. Jamais acontecerá. Porque assim são as coisas. Ele permanece lá. Só. Parado. Em frente à janela.

Lio Ribeiro é ator, autor e diretor teatral. Formado em artes cênicas pela Universidade Federal do Maranhão é professor de Artes Cênicas do Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão (CEFET/MA), onde, entre outras atividades, mantém o Grupo Upaon-Açu de Artes Cênicas. Também foi professor do Centro de Artes Cênicas do Maranhão (CACEM). Iniciou sua trajetória artística na década de 1980. Em 1983 fundou o Grupo Artístico Ganzola, onde já realizou programas de formação de atores e diversas montagens teatrais como “Amor por Anexins”, “Flicts”, “O Reizinho Mandão”, “Sapo Vira Rei”, “O Sumiço do Rei”, “Chá das Cinco”, “A Revolta dos Perus”, “Um Adorável Menestrel”, entre outros. Foi diretor da Federação de Teatro do Maranhão, presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Maranhão (SATED/MA) e Secretário da Associação Nacional de Entidades de Artistas e Técnicos (ANEATE). Atualmente é membro do Conselho Municipal de Cultura e Patrimônio/São Luís, representante da área de teatro. Já recebeu, entre outros, os prêmios Arthur Azevedo (teatro); XXII Conc. Lit. Art. Cidade de São Luís: 1996; Prêmio Antônio Lopes (pesquisa) – 2º Lugar; e o XXVIII Conc. Lit. Art. Cidade de São Luís: 2002. Tem obras inéditas na área de Teatro, jornalismo, poesia e contos. Entre elas, ensaio sobre os aspectos dramáticos do carnaval maranhense e também radionovelas, algumas delas levadas ao ar pela Rádio Educadora AM.